Artigo publicado no Jornal O Estado de S.Paulo, de hoje, escrito por Maria Rita Kehl, imediatamente chamou-me a atenção pela introdução e chamada na primeira página :
" Levante a mão quem teve o azar de ser amado(a) pelas razões erradas".
O artigo deve ser lido na íntegra por quem identificou-se - ter tido o azar de ser amado por razões erradas, em encontros de equívocos e falsas expectativas. Como dói! E pior ainda se insistem!
As associações com esses tipos de desencontros tornam-se múltiplas na vida nuclear, pessoal, familiar, afetiva e de trabalho. Existem pessoas que estão sempre a projetar modelos que não dizem nada a nosso respeito - "o espelho do olhar do outro lhe devolve uma imagem que parece sua, mas na qual você não se reconhece". E se essas pessoas são muito influentes e persistentes.... que azar! quanto azar!
Ao ler a frase, em poucos minutos, minha fantasia levou-me para várias situações:
Exemplo 1 : mulher caçula de uma grande família, nascida no início do século 20, adora a sua mãe e dispõe-se, com alegria, a ser sua companheira, por toda a vida. Influencia amigas e conhecidas a engravidarem, mesmo depois dos 40 anos de idade, com a fantasia de que todas as meninas nascidas caçulas terão, também, disposição para serem "damas de companhia" das respectivas mães na velhice. E isso, culturalmente, é esperado em muitas famílias.
Exemplo 2 : professor de My Fair Lady - culto e esnobe, influente, aposta que irá transformar vendedora rude em uma "socialite". Existem muitos homens com complexo do professor britânico do cinema e que quer moldar alunas, colegas ou amigas em conferencistas ou mulheres de grandes negócios, sem que a mulher, em questão, tenha demonstrado aquela expectativa ou apresente perfil. Maravilhosa criação do cinema, sucesso do Pigmaleão mas difícil na vida real.
Exemplo 3 : líder social imagina, em suas fantasias, que todos sentem-se bem em movimentos de massa, em participações populares, em lideranças de comunidades ou de revolução de costumes. Faz retaliação sobre profissionais que resistem ou desejam uma vida padrão mais calma.
Exemplo 4 : celibatária rigorosa, de extremo conservadorismo, quer impor suas regras morais a mulheres com histórias de vida absolutamente diferentes, ainda que decentes e produtivas.
Exemplo 5: executivo da área de moda deduz e projeta que todas mulheres gostariam de ser modelos sensuais, atraentes e vaidosas. Projeta e divulga essa sua fantasia para executivas cuja carreira precisa seguir aspectos e rigores opostos: sigilo, confidencialidade, zelo técnico, privacidade, competência técnica etc.
Exemplo 6 : dona de casa dedicada porém arredia a estudos e que detesta livros, quer convencer pessoas da família, intelectuais, e com vida profissional de independência, a viver como dona de casa ou isolada em sítio, como se a sua opção fosse a melhor opção de vida existente.
Exemplo 7 : socióloga "low profile" quer convencer pessoas a assumirem bandeiras controvertidas em termos de liberalidades, ainda que ela mesma viva protegida sob o casamento, num trabalho sem exposição na vida política do país ou sujeito a retaliações.
Pessoas - familiares, colegas de trabalho, superiores hierárquicos, amigos de adolescência ou chefes fantasiam sobre nós, nossas habilidades, forças, nossas expectativas e mundo interno! Sem sustentação com a realidade ou com nossos recursos reais e, que Deus nos acuda!
Essas considerações acima foram minhas projeções pessoais sobre o artigo da psicanalista.
Leia hoje, o Jornal O Estado de S.Paulo e entenda a leitura particular de Maria Rita Kehl sobre as reações da platéia de Maria Gadu. Depois, tire as suas conclusões!
Maria Lucia Zulzke, em 29 de maio de 2010, às 11: 43 am, em S.Paulo - SP - Brasil.
sábado, maio 29, 2010
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