Filme em DVD : " O milagre de Anne Sullivan" --- NET: TELECINE CULT - a professora (21 anos) e aluna com 7 a 8 anos - FILME EXIBIDO EM março 2011 pela NET
Obtido em referências Google - resumido:
TRÊS DIAS PARA VER -
Por Helen Keller
O que você olharia se tivesse apenas três dias de visão?
Helen Keller (1880-1968), mulher extraordinária e conhecida na vida adulta, cega, surda e muda desde bebê, nos chama a atenção para a apreciação de nossos sentidos, algo que normalmente não percebemos.
Apenas de posse do sentido do tato e uma perseverança inigualável, sob a orientação de sua professora, Anne Sullivan Macy, Keller pôde aprender a ler e escrever pelo método Braille, chegando mesmo a falar, por imitação das vibrações da garganta de sua preceptora, as quais captava com as pontas dos dedos.
O esforço de sua mente em procurar se comunicar com o exterior teve como resultado o afloramento de uma inteligência excepcional, considerada a maior vitória individual da
história da educação. Ela foi uma educadora, escritora e advogada de cegos.
Tinha muita ambição e grande poder de realização. Ao lado de Sullivan, percorreu
vários países do mundo promovendo campanhas para melhorar a situação dos
deficientes visuais e auditivos. É considerada uma das grandes heroínas femininas do mundo.
Publicado no Reader’s Digest (Seleções) há 70 anos. Texto selecionado por Silvia Helena Cardoso
"Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego
e surdo por alguns dias no principio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silencio lhe ensinaria as alegrias do som.
Como é possível caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu,
que não posso ver, apenas pelo tato encontro centenas de objetos que me interessam.
Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula
ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores
na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o
sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão
numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso.
Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser
revelada pela visão! E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar,
digamos por apenas três dias. Eu dividiria esse período em três partes:
No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias
fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração
de um amigo pelas “janelas da alma”, os olhos. Só consigo “ver” as linhas de
um rosto por meio das pontas dos dedos.
Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções.
Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.
Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver,
perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as
sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos.
Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos?
Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas
mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.
Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!
Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo,
imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles.
Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa
e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta.
Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana.
E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.
À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza.
E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido.
Creio que nessa noite não conseguiria dormir.
No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre
da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama
de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.
Esse dia, eu dedicaria a uma breve visão do mundo,
passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria
os museus. Ali meus olhos, veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças
dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros que vagavam
pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro
poderoso, dominaria o reino animal. Minha parada seguinte seria o Museu de Artes.
Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tato as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu
a cegueira.
Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte.
Todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas,
da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz
por me entregar a um estudo tão fascinante.
À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Não posso desfrutar da
beleza do movimento rítmico senão numa esfera restrita ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina. Imagino que o movimento cadenciado
seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo.
Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido;
se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a
emoção de ver a graça em movimento.
Na manhã seguinte, ávida por conhecer novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos
homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino.
Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando,
por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma
séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.
Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em
nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores.
Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão
deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez,
se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres –
interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.
Da 5ª Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas,
aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros
estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade
quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas
vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.
Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas na noite desse último dia vou voltar depressa
a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia
no espírito humano.
À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Quando as
trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.
Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como
se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos.
Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais
sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas
as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de
contato fornecidos pela natureza. "
-------------------------------------------------------------------------------
Publicado em 31.Dezembro.2002 Copyright 2002 Universidade Estadual de Campinas
Revista Cérebro & Mente
Núcleo de Informática BIomédica
segunda-feira, março 28, 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário