Foto 1 e Foto 6 - revista Veja de 10 de julho 1985, pagina 93
Foto 2 - nota sobre minha contratação no Diário do Grande ABC
Foto 3 - Matéria sobre veto à propaganda institucional sobre medicamentos, revista de setembro de 1985, matéria de Edmilson Conceição (detalhes em dias anteriores deste blog)
Fotos 4 e 5 - Folheto sobre o que fazia, não fazia o Núcleo de Valorização do Consumidor, com ilustrações de Nicoliello.
Como enfrentar uma responsabilidade na empresa além da prevista?
O meu primeiro dia na empresa foi 15 de abril de 1985 e estavam previstos 3 meses para o meu processo de treinamento e familiarização com as inúmeras atividades de negócios da empresa.
Em menos de 3 meses já tínhamos administrado alguns eventos significativos!
1 - O veto da propaganda institucional sobre a área farmacêutica;
2 - O entusiasmo excessivo do presidente da Rhodia, Edson Vaz Musa, em declarações à imprensa e trazendo um grande desassossego interno nos meus colegas e compreensíveis ciúmes pois dificilmente um(a) funcionário(a) recém contratado(a) havia recebido tanto espaço na mídia.
Considero essa experiência empresarial fantástica do ponto de vista:
1-administração de empresas;
2-como implantar inovações com repercussão nacional;
3-os impactos de se contratar uma mulher, profissional ainda jovem, e com uma carreira consolidada em defesa do consumidor durante 9 anos para uma proposta inovadora na empresa;
4-leituras internas e projetivas do trabalho de uma única pessoa numa organização de 13 mil funcionários;
5-a cultura de engenheiros numa empresa;
6-o marketing social é possível numa empresa complexa?
7-administrar jornalismo, jornalistas, imagem empresarial e funções de relações públicas, programas de qualidade e da introdução de uma figura e personagem em processo ainda de assimilação nas empresas em 1985 - o cliente, a cliente!
Diante das inúmeras especulações sobre as atividades que eu iria desempenhar, fizemos e distribuímos largamente o folheto com o título - "Na Rhodia, o consumidor tem vez", continuei participando de atividades com assiduidade e a divisão farmacêutica foi uma das que mais abriu espaços para discussões internas e reuniões. Externamente, depois de amargar a frieza e críticas ferozes de meus ex colegas de defesa do consumidor, após decorrido 1 ano, talvez, voltei a ser convidada a me expor em palestras relatando a experiência em curso na empresa.
Alguns ex-colegas de governo, sei que perdi para sempre. Não falam comigo até hoje, 25 anos depois, jamais me perdoaram por ter "mudado de lado", ter ido trabalhar numa empresa privada! Porém, mediante os exemplos da Nestlé, Johnson e Sadia, eu tinha enorme vontade de entrar na dinâmica empresarial, o que, pelas restrições da época, o meu título de engenheira de alimentos não havia me proporcionado.
Algumas atividades da empresa foram bem receptivas e é natural que eu as mencionasse em meu livro. O vínculo operacional direto com o Vice-Presidente da Área Têxtil tornava mais fácil trabalhar pois o próprio presidente era um engenheiro proveniente da Divisão Têxtil e os primeiros trabalhos de modernização da política de marcas, com data em 1981, eram na área têxtil. Além do que, havia um laboratório de análises para os artigos têxteis dos clientes, na cidade de Santo André e pudemos fazer ótimos trabalhos de qualidade com os "inputs" de consumidores, análise de material no laboratório e orientação técnica e qualificada à indústria cliente(alguns tornaram-se objeto de artigos em revista, públicos, portanto).
Como sou engenheira de alimentos e, durante 9 anos no Procon -SP, eu havia coordenado pesquisas técnicas com laboratórios oficiais, eu tinha em mente que o meu trabalho na Rhodia seria uma continuidade. Jamais havia projetado me tornar um foco de notícias . Pensei que receberíamos as informações ou reclamações dos consumidores, investigaríamos com os demais engenheiros e técnicos, redigiríamos um relatório e publicaríamos com os aperfeiçoamentos já programados e sob controle, no devido tempo.
Eu imaginava que estando dentro da empresa, eu poderia ter controle das etapas de aperfeiçoamento, análise, relatório e divulgação com o respaldo de engenheiros (as)....
Porém, o Núcleo de Valorização do Consumidor estava implantado dentro da Gerência de Comunicação Social, dentro de um Programa de Portas Abertas e, meus colegas de trabalho eram jornalistas e relações públicas. A urgência era determinada pelos jornalistas, revistas e jornais.
Assim, o aprendizado foi "on the job", sob os holofotes de agências de publicidade e de toda a mídia, e a empresa projetando, simultaneamente suas propagandas para comemorar seus 65 anos no Brasil, a jovem senhora!
Quanto mais me distancio dos anos 80, mais considero esse um exemplar caso de inovação empresarial, atribulado e atropelado pelas circunstâncias, agravado pelo fato de ainda estarmos num regime político brasileiro fechado e sem eleições diretas, numa empresa fechada, de engenheiros e com produtos complexos e alguns com riscos potenciais.
Do ponto de vista de administração de empresas, de marketing social, o profissionalismo da nossa equipe permitiu encerrar com chave de ouro um programa para o qual estava preparado - interagir com públicos internos e externos, inclusive dando respaldo ao então presidente Edson Vaz Musa, que reconhecia ser prolixo, aberto demais, e na época, se expor como nenhum outro presidente de empresa para implantar uma política de comunicação social.
Para obter a dimensão do sucesso dos 5 anos de programa de portas abertas, é necessário fazer foco na gerência de comunicação social - matérias produzidas, teor das notícias, a imagem amigável da empresa conquistada entre outros indicadores pertinentes à uma política de comunicação.
A equipe de profissionais tinha uma missão, um objetivo e tarefas a executar, não tínhamos a abrangência de responder pelas atividades de 13 mil funcionários pois não era política de recursos humanos, ainda que fizesse interface com a forma de trabalhar de colegas.
Cada qual tem a consciência tranquila, ou não, de ter feito o correto para sua profissão e sua função, além de ter cumprido os principais objetivos da empresa contratante.
Continuarei no estudo deste caso, pois a memória empresarial brasileira parece precisar de exemplos concretos, de duros aprendizados, de grandes exposições, de reflexão sobre as grandes inovações, da forma com que as mulheres profissionais e executivas são recebidas e expostas dentro das empresas quando há um contingente majoritário de homens, numa cultura de engenheiros entre outros aspectos importantes e dignos de registros.
Maria Lucia Zulzke, em 29 de janeiro de 2010, 12:40hs em S.Paulo - SP - Brasil
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