Ter trabalhado no Procon-SP, durante quase 9 anos, meu primeiro emprego formal, deixou muito evidente o lado das irregularidades, dos erros e problemas em alimentos.
Porém, a cada refeição que tenho e me dá saúde, nutrição, energia e prazer, eu sinto vontade de rezar e agradecer aos produtores ! Em termos estatísticos, os alimentos que ingerimos diariamente, com seleção, critério e cuidado, trazem muito mais alegrias do que aborrecimentos!
E, em fevereiro de 1979, eu assisti uma das cenas mais chocantes e inesquecíveis da minha vida!
Choravam, de verdade, numa reunião setorial de produtores, com a presença do presidente da Comissão de Cereais, Raiz e Tubérculos, produtores, pedindo que suspendessem a importação de cebola, pois estavam sendo destruidos os plantadores do estado de S.Paulo.
Os produtores precisam de financiamento de banco, apostam na safra, plantam, cuidam da produção, das sementes, e se não germinar a semente o problema é de quem planta, doenças provenientes de outros países produtores, gastavam com insumos como herbicidas entre outros produtos para controle de pragas... e o governo decidia importar, jogando o preço do produto para baixo. Da mesma forma, acontecia com arroz, feijão vindo do México e a batata viajava da Holanda para o Brasil.
A diferença entre o que recebia o produtor, ao redor de CR$ 2,00 dois cruzeiros naquela época e o consumidor que pagava Cr$ 15,00 quinze cruzeiros o quilo...a diferença é o que ficava a todos os intermediários. Enquanto isso, o produtor nem conseguia quitar seus financiamentos com os bancos. Eles se endividavam para nos alimentar !
Não havia armazenamento, não haviam estoques, não havia política muito eficiente de abastecimento e os consumidores pagavam pelo alimento que o produtor se endividava para produzir sem garantia do que teria em troca do seu trabalho ! Uma coisa muito surrealista.
Recentemente vi, nos locais de venda, a cebola chegando a R$ 4,00 (quatro reais o quilo) nesse mês de agosto de 2010 e lembrei-me daquela reunião. Quanto ganham os plantadores de cebola hoje ou tudo continua como há 31 anos?
Podem existir empregos e trabalhos muito melhores, mas trabalhar quase 9 anos no Procon, exige que o profissional tenha ou desenvolva, além de conhecimentos técnicos, muita piedade e compreensão sobre a cadeia alimentar ! Quem só critica produtor e fornecedor é por que talvez, nunca tenha comparecido a uma reunião setorial como aquela, onde homens de face enrugada choravam de desespero e desamparo.
Obrigada aos produtores todos, pelo pão nosso de cada dia, produtores de arroz, cebola, batata e tantos outros pois, eu, como consumidora, compro, cozinho em casa e me alimento! Que Deus os abençõe, aos que trabalham para alimentar os 190 milhões de brasileiros e brasileiras!
Maria Lucia Zulzke, em 17 de agosto de 2010, às 17:51 hs, em S.Paulo - SP - Brasil.
terça-feira, agosto 17, 2010
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