Relembrei, hoje, alguns dos "horrores" e "tristezas" que chegavam ao nosso atendimento, no Procon-SP, na década de 70. A cultura econômica e financeira faz muita falta aos consumidores.
Deparam-se com ofertas e oportunidades mas, essas, às vezes, extrapolam as condições de compra e possibilidades de ganho. Como dizem... os gastos são certezas, as receitas são meras esperanças...
Pessoas simples, de inúmeros bairros e periferias de S.Paulo, levavam, a nós, equipe jovem de profissionais, as inúmeras tragédias de suas vidas, do ponto de vista econômico e de consumo.
Ilusão, persuasão, compra por impulso, tudo se mistura diante de uma oferta tentadora e a vontade de melhorar e desenvolver o ganho diário.
Um dos casos marcantes foi o de uma jovem costureira de periferia, mãe de crianças pequenas, abordada, em sua casa, por um vendedor porta-a-porta.
A proposta do vendedor foi irresistível, trocar a velha máquina de costura, por uma nova e cheia de recursos, parcelando o saldo restante (a quase totalidade tendo em vista a aceitação da velha por valor irrelevante).
Entusiasmo, visão de um futuro melhor, uma máquina mais moderna com maiores recursos, possibilidade de atender melhor as clientes... e foi feita a compra em parcelas, pela humilde consumidora que, entregou a velha máquina ao vendedor, como sinal do pagamento.
O problema financeiro daquela costureira iria ser percebido logo.
A renda mensal não aumentou com o novo equipamento mas as despesas cresceram com o compromisso mensal do pagamento da nova máquina de costura.
Impossível repassar, de imediato, o preço das novas prestações, nas costuras das clientes. A nova tecnologia não havia agregado nenhum valor ao produto final e nem ela ampliou seu mercado. Ela continuava sendo a única a trabalhar, numa única máquina, portanto, não havia ampliado em nada seus recursos escassos.
Em poucos meses, a inadimplência! Tomaram sua máquina de costura por falta de pagamento.
Impossibilitada de trabalhar, surrupiada de sua única ferramenta de trabalho, sem a nova e sem a velha, a incauta mãe, daquela pequena família de crianças pequenas, teve um derrame ou ataque cardíaco, vindo a falecer.
Deixou três crianças pequenas órfãs e um viúvo revoltado. Todos foram juntos, unidos, ao Procon-SP, procurar ajuda. Eu os vi saindo de lá, alquebrados e sem solução.
Em tempo... a família havia ido ao Procon na esperança de que o órgão intercedesse e conseguisse a suspensão da dívida da costureira e a cobrança das prestações não pagas.
Maria Lucia Zulzke, em 02 de agosto de 2010, às 15:50 hs, em S.Paulo - SP - Brasil.
segunda-feira, agosto 02, 2010
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